27.3.06

Dúvidas existenciais e pânico avaliativo

Com demasiada frequência, quando me ocorre a mera ideia de haver pessoal da minha escola a visitar este blog - bem, professores será o cúmulo, porque raio é que lhes mandei o link? - quase que me arrependo. De vergonha, entendem? Quando ouço, por exemplo, o solo desta música de 2005 - AND YET I DOUBT - e percebo a sua insipidez, e como o tema não sai dos mesmos acordes iniciais e repete até ao fim a mesma ideia sem surpresas, percebo que estou aqui a expôr tudo o que não sei tocar. A limitação de compôr sem saber compôr... Quase que apetece parar de postar e não me expôr mais ao ridículo. Depois penso, que se dane, importa é que respondo à pulsão, e que isso me diverte e me apazigua... e que cada um faz aquilo que pode e a mais não é obrigado. Eu não sei avaliar o que pensaria desta música se ela não tivesse partido de mim. Como assim foi, resta-me admitir que não tenho arbítrio, mas que ouvir o que fiz me dá muito gozo...
Ainda assim, não posso evitar a tentação da vergonha. Diz-me uma professora minha, a Paula Sousa, pianista reconhecida, que esse sentimento nunca desaparece, que ela própria vai cheia de medo e em crise de auto-confiança sempre que sobe a um palco, e que a única forma de responder a isso é com "muito trabalhinho", para que se esteja preparad@... Bem, talvez... eu tenho tentado "trabalhar muito", porque após tantos tombos e direcções erráticas, tenho a convicção absoluta de que está aqui, na música, o que quero fazer, com toda a dedicação e vontade. E porque estou consciente - lá está - de que para ser músico e vir a tocar e a compôr como realmente quero, tenho que estudar, estudar, estudar... Mas estudar música é muito caro, exige muito tempo, e o resto da vida não pára, e exige-nos, e mais tarde ou mais cedo eu vou ter que trabalhar mas é para comer, e receio que a minha escolha final pela música tenho sido tardia para que venha a ter hipótese de fazer dela vida.
Este nervosismo deve estar relacionado com o facto de estarem aí à porta as duas semanas de exames do fim do segundo período. Vou ser avaliado na guitarra e no piano, em formação musical, treino auditivo, e numa cadeira de harmonia e improvisação que, felizmente, para já é apenas teórica... quando penso que estou a gastar no estudo quase todos os meus recursos, a ponto de não ter dinheiro para tabaco e ter que fazer mil malabarismos para o ter para continuar a alimentar-me... chumbar não é uma alternativa viável. Ui, que medo, tenho impressão de que vou entrar em quarentena musical nos próximos tempos... Vou estudar e não estou para ninguém :)

26.3.06

Latino Funk

Diverti-me muito, muito a fazer esta. Chamei-lhe SAMBAFUNK, é do ano passado e saiu uma espécie de chill out. Levantem bem o volume, até porque a música tem um longo fade out, que exemplifica bem a predominância de uma linha de baixo a contratempo, que é uma das coisas que mais me agrada no funk. É pesadinha, deve levar um bocadinho a carregar :) Tive que lhe cortar um pedaço do início para conseguir fazer o upload, mas não se perdeu nada que não se repita nesta amostra.

Fica em homenagem (modesta, muito modesta) ao percussionista e salsero Ray Barretto, falecido a 17 de Fevereiro. Uma amostra de um tema dele que adoro: New York Soul. É um bom exemplo das referências nuyorican, isto é, da música e do soul dos porto-riquenhos de Nova Iorque, absolutamente a descobrir, com as influências enormes que tiveram no jazz latino, no funk, no acid jazz... Eddie Palmieri (ouçam V.P. Blues), Johnny Colon (aqui excerto de Merecumbe), Mongo Santamaria (outro percussionista, cubano, falecido em 2003), Andy Harlow (aqui no tema Batumbique), são alguns desta tradição que mais aprecio. Mas um dos meus favoritos nesta escola, embora muito mais virado para o funk, não é porto-riquenho, mas brasileiro, o teclista Deodato, de que linko duas amostras fixes: Also Sprach Zaratustra e Skyscrapers, um dos meus grooves preferidos.

25.3.06

Hoje só levais isto...

AUTUMN
os segundos finais, foi que se aproveitou de um tema falhado :)

Porém, deixo dica para hoje: a oportunidade de ouvir a cantora Jacinta na FNAC Chiado às 18h; temas de Jobim, Zeca Afonso e outros.

Permitam-me também insistir que regressem, desta vez por outra porta, a um dos links que coloquei aqui ao lado - blaxploitation.com
Só para o caso de não terem reparado que lá estavam, curtam estas amostras (que é como quem diz check these samples out :) :) :)

24.3.06

And now something completely different...

ON THE EDGE
Fui eu que fiz, não me perguntem o que é... desta vez, a ajuda na flauta veio do Paulinho Sousa, que agora anda mais numa de aprender clarinete.


Agora, uma boa dica para dias 31 Março, 01 e 02 de Abril: vai ter lugar a 4ª Festa do Jazz no Teatro São Luís, em Lisboa. Vai haver uma série de concertos de malta consagrada, entre os quais destaco o meu anterior professor de guitarra, Mário Delgado (na formação TGB - Tuba, Guitarra, Bateria), e o actual, Nuno Ferreira, no Ensemble Festa do Jazz, formado para a ocasião. Entre os temas desta formação, um do compositor e guitarrista Afonso Pais, que também me está a dar aulas, de treino auditivo.

A festa também inclui uma reunião de "combos" de todas as escolas de jazz, e a minha escola JBJazz vai lá estar também. Ainda não é desta que me ouvirão tocar a mim, mas vou esforçar-me por estar no palco da 5ª festa :) Aqui têm um dos links que encontrei para o programa. Ao que sei, a entrada é livre, mas não me batam se houver alguma surpresa ;(

Já que falei no Nuno Ferreira - eis o link da editora dele - lançou recentemente um disco novo - "à espera do verão". Podem ouvi-lo hoje à noite no Cefalópode, com a sua formação LEGGO. No mesmo local, toca amanhã a minha mestra de piano, a Paula Sousa, com o projecto Healing Bandage, formado a propósito da visita a Portugal da contrabaixista e cantora norte-americana, Esperanza Spalding. Estou bué curioso: por ser barata a entrada (3euros), eu estava à espera desta sessão (já tocaram no Hot e no Onda Jazz), mas raios, estou preso em casa com uma valente infecção urinária :( Esta não esperava...

22.3.06

FUNK GUTURAL

No final do ano passado fiz este tema - S.O.S. - aqui em versão instrumental - as únicas vozes são as da sobreposição de kazoos no final de cada parte - à falta de instrumentos de sopro, quem não tem cão caça com gato... A letra fica para outro dia, assim tb é cool, e a falta dela não faz o tema menos selvagem ou cacofónico, embora até demasiado arrumadinho. Porém, o som da guitarra - e dos guinchos - remete obviamente para senhores como este, dito Godfather of Soul.

Ainda hoje, James Brown me tira do sério. Mas não faltam, no funk, personagens muito mais obscuros, divas e funkateers que me despertam muito maior curiosidade, como o misterioso Jerry-O, dono de uma energia e histeria incomparáveis. Cuidado com os ouvidos sensíveis ao agudo - There was a Time e Funky Charge são exemplos ilustrativos dos transes deste senhor, nome verdadeiro Jerry Murray, que retirei daqui:

Funk Polifónico

Escrevi e gravei AUSÊNCIA - fica um excerto porque a música toda é muito pesada para upload - no início de 2005. É um tema sobre saudades mas não contém tristeza, concordarão que a letra é bastante naif. O funk raramente deixa entrar a tristeza :), independentemente da minha motivação de partida - como quase sempre, os temas que escrevo correspondem a coisas e pessoas que me vão acontecendo.

Não saias d’ao pé de mim
Por muito tempo qu’ eu não aguento
És a pele que me toca
És a minha cola,
O abraço terno que me enrola
Eu sem ti fico sem mola

Se a vida te chamar
E tiveres que bazar
No regresso traz-me um pouco
Para partilhar

És o beijo que me choca
És a minha cola,
O abraço terno que me enrola
Eu sem ti fico sem mola


Se gostaste deste pedaço, então ouve o final - AUSÊNCIA II - foi na Córsega, há uns anitos, que conheci e entendi o conceito de polifonia. É uma das brincadeiras que mais gosto de fazer. Com funk então... o ganho rítmico pode ser delicioso :) miam

20.3.06

Queijos Fedorentos vs. Disco Sound

SPACEY SPICE - Este som ululante, gravei-o em 2004, saiu-me disco sound q.b.
Quase sempre, prefiro trilhar os caminhos do funk instrumental, quanto mais crú, beat sincopado e improvisado melhor. Deu-me trabalho encontrar na net uma amostra que fosse do que fazia em 94 a agora renascida Big Cheese Records - Le Fromage Productions, uma editora francesa que começou por distribuir milhares de panfletos acompanhados de um pedaço de cheiroso roquefort num saquinho de plástico para anunciar umas festas loucas a que chamava "laboratory". Se alguma vez virem esta capa, não hesitem.

É uma boa amostra do culto do funk em França nos anos 80/90 (and today, by the way), transes instrumentais cheios de garra, explosões de improviso jazz-funk exaltado, quente, imediato, linhas de baixo hipnóticas, catarse colectiva descontrolada.

Esta sample de "VJC", do teclista Clifford Coulter, é um exemplo demasiado calmo para o que acabo de descrever, mas foi a única que encontrei deste suculento queijinho fedorento em forma de vinil. De qualquer forma, vale a pena ouvir com uns bons fones, até se flutua :) Hammond, de novo ao ataque!

19.3.06

B3

Só por este cheirinho Brentford All Stars - Greedy G vale a pena visitar The Hammond Grounds dedicado ao culto do Hammond B3. O órgão mais cavernoso, tempestuoso e apaixonado de sempre irrompeu pelo funk, pelo soul, pelo hip-hop. E pelo jazz: o Herbie gostava dele em palco, mas houve dois Smiths que o adoptaram a tempo inteiro: Jimmy Smith: um bom exemplo da sua alma é "The Cat" , da banda sonora do filme com o mesmo nome; e Lonnie Smith : (do álbum "Turning Point") ficam amostras dos grooves Seesaw ; People Sure Act Funny ; Slow High ; Turning Point. Fez os seus estragos e hoje é uma antiguidade que, ao que sei, deixou de ser fabricada. Vá-se lá saber porque é tão difícil encontrar pianos electrónicos modernos que simulem este som :(

The Chase

Tanta conversa sobre o universo blaxploitation para mostrar mais um tema. Este é mais antigo, fi-lo entre 2001 e 2003, tendo por referência absoluta o filme "Shaft". A música é claramente cinematográfica, pelo menos na minha intencionalidade: trata-se de uma perseguição automóvel, daquelas clássicas de que os filmes deste género estavam sempre recheados. Só que em câmara lenta, presente o stress da perseguição mas não o da fuga, essa segue a regra cool dos personagens "bonzinhos" mas durões - tough but frozenly "cool" - deste imaginário. De registar a preciosa ajuda do JC, a revelar os seus dotes musicais na flauta, farto que estava de ouvir as minhas evidentes fífias. Decididamente, é um instrumento a que não aspiro.
O tema chama-se
LOW SPEED CHASE

18.3.06

Blaxploitation, Fritz the Cat, Peanuts e Marsalis


Na senda de explorar as origens de algumas referências jazz-funk, Fritz The Cat é um filme indispensável. Lembro-me de ficar siderado a primeira vez que o vi, e de ficar anos obcecado pela banda sonora até ter conseguido apanhá-la. Foi sobretudo esta que me "agarrou", mas o filme é uma longa-metragem de animação genial e desencantada sobre a América dos 60´s, passe o sexismo exacerbado de Crumb, o autor das personagens e argumentista.
As samples que vos deixo não dispensam ir atrás do conjunto do disco, são uma muito pequena amostra:
Black Talk ;
Fritz the Cat ; Mamblues .

Mas determinante para mim foi o universo Peanuts - foi com ele que comecei a escutar Jazz, tinha ainda palmo e meio, mas só vim a reconhecê-lo - o Jazz - anos depois.
Charlie Brown Theme ; Linus & Lucy . Digam lá isto se isto não bate a merda dos Dragonballs e a porcaria que se serve aos putos na TV de hoje?
Aparentemente tenho isto em comum com a genial a família Marsalis, que por referência aos mesmos desenhos animados fez um dos meus discos de bolso: Branford, Winton e Ellis Marsalis, Marsalis Trio, em "Joe Cool's Blues". Este disco é talvez mais acessível que qualquer dos outros, e também merece ser perseguido - mais uma vez as amostras que deixo fazem pequena justiça ao disco e aos temas. É uma delícia :) -
Charlie Brown ; Little Birdie ; Buggy Ride ; Linus & Lucy

Referência mais recente, mas nada menor, é o universo dos Blaxploitation Movies, mais uma vez o cinema e a música aliados, o Black Power movement - com as suas vitórias e as suas tragédias - reflectido numa visibilidade militante em inúmeros filmes - "série B" q.b. - mas também em muito boa música :) Ça me fascine encore, quoi!

17.3.06

Para aguçar o apetite

THE BLUES - trailer
Martin Scorcese

cliquem no botão do volume para levantá-lo, no play, and enjoy

Então e os blues, pá?

Ui, que injustiça, é claro que os blues também estão all over nas coisas que toco e nas que ouço... Recentemente delirei com os oito documentários - "The Blues" - que a RTP 2 passou sobre a origem dos blues, também eu desconhecia essa faceta de realizadores como o Wim Wenders ou Clint Eastwood, encabeçados por um fascinado e fascinante Martin Scorcese. Delirei mais ainda com o facto de não podido gravá-los, mas à hora certa lá estava eu coladinho à tv, que é um objecto que normalmente desprezo q.b. Se não tiveram oportunidade de ver, e se ao contrário de mim tiverem possibilidade financeira de ir atrás deles, não percam. Espero, espero mesmo que os repitam um dia destes. Está tudo lá, tudo o que um amante de blues quer ouvir, sentir e ver sobre a música e o contexto da América miserável e racista que lhes deu origem, e como do blues veio tudo o resto que ainda nos fascina e inspira...
Até me arrepio.
Poderão achar que não tem nada a ver, mas eu sei que tem. O tema que se segue também o fiz no ano passado, na sequência de uma daquelas experiências of a life time. Tem uma guitarra com alguma distorção, não se assustem, até foi propositado, e tem a ver com alguma distorção sensorial que me atravessava no momento. Deixo ao critério d@ ouvinte a atribuição de significado a MD, digo apenas que há experiências marcantes, partilhas determinantes e substâncias boas demais (cuidado com as imitações) para que nos tornemos demasiado próximos delas... Atenção, atenção: eu até sou um tipo responsável...
Caramba, isto tem a ver com música? Acho que sim... :) Sobretudo com a forma como a sentimos e nos manipula emoções.
MD FOR 2

Montgomery, Green e Milagre

Gosto de funk-funk, pronto. Mas também ele teve raízes no jazz. Tenho andado louco na descoberta de dois guitarristas tão extraordinários que a referência do Herbie Hancock no piano e naqueles seus sintetizadores maravilhosos até tem andado secundarizada... mas não muito (na próxima semana tenho que apresentar um trabalho sobre este senhor). São dois senhores da mesma escola, e do grande universo funk-jazz: Wes Montogmery e Grant Green, que descobri recentemente com espanto e incredulidade graças a umas aulas de história do Jazz que ando a consumir sofregamente. Nem sequer posso dizer que não conhecia já esse mundo pelo qual o jazz divagou em época de afirmação black power. Como pude andar tão distraído tanto tempo?

Provavelmente demasiado absorto noutras coisas. Como o livro de poemas (belíssima edição do autor acessível a pedido para
irreconheciveisvistosdoespaco@yahoo.com), do meu amigo e companheiro Nuno Milagre, do qual não resisti a retirar e musicar este tema (2004?): NÃO VÁS EMBORA

16.3.06

Tchan Tchan

Vocação é vocação. Quando se descobre, apressa o passo. Quando se redescobre, torna-se urgência inalienável e passa até por cima das necessidades básicas ou das lógicas quotidianas.
Funkenstein: para partilhar os percursos de descoberta musical que vou fazendo, na esperança de levar outras pessoas a descobrir os mesmos músicos fantásticos que eu vou descobrindo e admirando. E tb para partilhar o que vou criando e tocando - tenham paciência :) e dêem desconto à qualidade técnica e musical da coisa. Tal como à qualidade do som, que, para publicar, ainda tive que reduzir mais: bom para ouvir num PC, aturável numa aparelhagem, mas absolutamente inadequado tecnicamente para passar numa mesa de mistura, por exemplo.
Sem pretensões, espero que a música agrade a quem fôr por cá passando. Quanto aos meus próprios temas, ao longo de algum tempo e com regularidade, vou publicar músicas recentes e outras mais antigas. A lista já é grande, porque este hobbie é obcessivo. Bom, tem dias...
Para já, fica o tema que dá nome a este blog que hoje inicio, e que data de 2005:
FUNKENSTEIN