As voltas que a vida dá e as que nos damos
Pode alguma coisa ser mais surpreendente que a surpresa que nos infligimos a nós mesmos ao nos descobrirmos noutros lados da vida que não aqueles que nos são familiares e que escolhemos? Pode algo ser mais surpreendente que nos renovarmos com alguém que não nos estaria destinado mas que nos cai nos braços e acolhemos com uma vontade que não sabíamos ter, de fazer coisas que pensávamos não querer? Mas que afinal nos revelaram diferentes, mais complexos, mais imprevisíveis, nos tomaram de surpresa, nos ganharam, nos fizeram felizes mesmo que por momentos, nos mudaram. Já sabia que em nenhum momento da vida devemos dizer nunca. O que não sabia era que a minha própria vida o viria a comprovar. Reinvento-me e surpreendo-me, e só não é surpresa que o motor dessa surpresa sejam pessoas e afectos. Que bem sabe ser-se desejado sem ocultações nem subterfúgios, nem ciúmes nem formalidades, apenas com a crueza do desejo e a extrema simplicidade de um carinho que se exerce sem repressões ou medos, sem nada esperar em troca, sem expectativas unilaterais, apenas e só carinho. Apenas e só duas pessoas que se cruzam, se seduzem, se fazem felizes os corpos e depois repousam na clareza de um abraço sem muros de permeio. Há muito que não sabia amar simples. Há muito que amar não me era simples. Quase esqueci como gostar sem complicações, desgostos e contratempos. Há muito de mim que não sabia. Há muito de mim por fazer e descobrir. É bom redescobrir a simplicidade do que pode afinal ser simples, e voltar a conhecer o prazer e o afecto sem dor. Olho-me ao espelho e só me reconheço na aparência, porque sendo o mesmo, já sou - outra vez - novo.