9.5.06

Music & Politics

Música é só música (o que não é pouco), mas como forma de expressão pode assumir ser outras coisas, traduzir linguagens, comunicar com o som e as palavras, transmitir meras emoções ou mensagens complexas. Os regimes totalitários desconfiam da música e dos músicos, dos artistas em geral, não só porque a música assumiu tantas vezes na história um lugar de resistência e de crítica social e política, mas porque a expressão musical, quando vem do fundo do ser, das raivas ou desejos de alguém - e isso não passa pela produção em série por gabinetes de marketing, agências de casting e estratégias comerciais, como hoje acontece massivamente - é ela própria uma das mais realizantes expressões de liberdade de expressão e criação.
Não quero dizer com isto que a dimensão comercial perverta inevitavelmente a mensagem ou a liberdade criativa. O primeiro disco de Jamiroquai - à volta da causa ambientalista - ou a música dos Rage Against The Machine, são exemplo disso - grandes máquinas de propaganda e de fazer dinheiro, e ainda assim há mensagens que furam o esquema. Com Jamiroquai, nos trabalhos que se seguiram, desapareceu a mensagem e ficou um funk absolutamente saboroso, por mais comercial que seja, e é. Não tem mal a música ser só música. A música tem alma própria. Mas é pena que uma motivação inicial que pretende transmitir conteúdo fique pelo caminho na senda do sucesso comercial. Prefiro a intervenção.

A mensagem e a acção políticas fazem falta no mundo de hoje. Sempre fizeram. E a música é um meio de comunicação poderoso, eis a questão, veja-se por exemplo como foi utilizada como meio de propaganda nas guerras deste século.
Daí que música e política andem tão frequentemente de mãos dadas. Foi assim com grande parte da música popular no mundo inteiro, foi assim com os blues, foi assim com o rock, foi assim com o hiphop, com o jazzfunk e tantas outras: podendo dispensar ser mais do que música, a música sempre foi veículo de causas, e quem me conhece sabe que isso tem a ver comigo.

Já explorei aqui pelo blog alguns expoentes desta ligação, mas há muitos outros que não referi daqueles que preenchem as minhas referências e simpatias. Passo ao lado, só por hoje, dos nossos próprios cantores de intervenção, o Zeca, o Zé Mário e outros tantos a quem devemos parte da liberdade que hoje nos vai restando.




Hoje quero lembrar Fela Kuti, e a resistência de uma vida às atrocidades do regime militar nigeriano, que aliás se abateram sobre ele e os seus de uma forma particularmente violenta. Open and Close, o African Funk a ser inventado.

Charlie Haden, sempre com Carla Bley, e a sua antropologia jazzística da música de resistência no projecto Liberation Music Orchestra (We Shall Overcome), que também passou pela Grândola (olhó Zeca a entrar pela porta do cavalo) e que se recompôs recentemente para dizer Not In Our Name e This is Not America.

Um murro no estômago, as letras dos Disposable Heroes of Hiphoprisy, uma crítica que é um manifesto político, fruto de uma reflexão profunda sobre as contradições norte-americanas, como em Television, the Drug of the Nation. Ou Music & Politics, a minha favorita, que dá título ao presente post, e é a única não comprometida do disco todo.

Na mesma escola dos Disposable, um dos meus colectivos preferidos chama-se Consolidated, e é mesmo a não perder o video-clip Free Music! Stop America! que os moços (bem mal comportados) oferecem no seu cantinho oficial. A música confrontada com a indústria musical... e alguma dela identificada com os movimentos por uma globalização alternativa à do capital.

Figth The Power, they said. Obviamente que sem referência aos Public Enemy não seria possível entender as origens deste hiphop comprometido, politizado e utilizado como arma apontada ao conformismo e à preguiça de pensar.

Hoje quero voltar ao godfather James Brown quando gritou
Say it Loud - I'm Black & I'm Proud.
Ao Gil Scott-Heron quando antes dos computadores pessoais e da era do digital afirmou The Revolution will not be televised.





E aos Xutos, que foram da minha geração mais do que nenhuma, quando as suas letras tinham a garra dos inconformistas e nos diziam raivas que sentíamos perante o Cerco da imobilidade e das injustiças. Até o Tim, que sempre foi laranja, escrevia coisas destas.

Toda esta conversa a pretexto de um tema que escrevi em 2002, HARD TIMES. A letra é um pouco estranha, básica, insondável, panfletária, não costumo escrever assim - mas embora possa não se notar, aborda precisamente a resistência da música para sobreviver à sua própria indústria.

HARD TIMES
music can be an expression of freedom
where you feel joy... I feel sense
where you feel the rhythm
I can feel total ecstasy
music can be an expression of freedom...
or not
Our freedom
No one can take it... if we figth
we unite
Allrigth, freedom is a state of mind
but first of all it means very material conditions
do you have them? didn't think so...
wanna have them? go and get'em!
and by the way... add some sweeeet jazz on it





8.5.06

Regresso ao palco


Sim, correu muito bem a nossa participação na festa da Happy Minds à qual fui tocar umas versões dub no órgão e na guitarra inserido na equipa GanjaMind GaianMind, que assegurou quase dez horas ininterruptas de chill out. Prometo de ora em diante anunciar as próximas aparições, esta foi intencionalmente discreta. Para mim foi uma espécie de re-baptismo de fogo, e soube-me bem, cheguei mesmo a acompanhar de improviso para além dos temas que tinha estudado. Paula: tinhas razão, o melhor remédio contra o nervosismo é o trabalhinho, a certeza de nos termos preparado bem :)
E o prazer no que se faz, acrescento eu, que tem que ser mais forte do que os suores frios :)

1.5.06

1º de Maio em casa?!

Embora já esteja melhorzito, hoje perco a manif do 1º de Maio pela primeira vez em muitos anos, e logo quando estou desempregado...
Mas como ainda não estou em condições de sair, continuo a brincar com o piano.
So, TAKE A SLICE