28.9.08

Cuevas

Cuevas e mais cuevas, mais de 2 mil, a fazerem do subsolo da ilha um queijo esburacado. Algumas reaproveitadas e extendidas com a construçao de habitaçoes, outras perdidas no monte, ocultas pela vegetaçao e perdidas pela memoria... estas fotos merecem ser aumentadas para se perceber onde está a entrada destas cuevas, que chegam, por dentro, a atingir dimensao de catedrais... ha mesmo uma que tem esse nome, cueva de sa catedral. Perfeitas para viver, e por vezes também para morrer, aquelas que terminam em aberturas de altura vertiginosa sobre o mar.








Cala Blanca

A rocha e o mar na zona onde estive a trabalhar, terreno perigoso, sobretudo à noite, em que o piso rochoso de repente e sem aviso se abre em buracos dignos de um queijo gruyére, por vezes de fundo tao a perder de vista que se adivinham grutas imensas por debaixo dos nossos pés, outras vezes abrindo-se directamente sobre o mar... mas mesmo quando nao há grande perigo, é demasiado fácil por aqui dar um passo em falso e partir alguma coisa... andar sobre estas rochas é para fazer com ponderaçao e algum equilíbrio.

Expressao mais assustadora desta miriade de buracos e aberturas na rocha, sao os bufadors, poços naturais de dezenas de metros de profundidade que abrem tao a pique sobre o mar que quando os ventos da tramuntana lançam as águas de frente sobre a costa, provocam uma deslocaçao de ar capaz de atirar ao ar uma pedra de 200 quilos... a força do fenómeno, e o ruído que provoca, é tao impressionante, que a estes poços correspondem abundantes mitos do bafo de dragoes adormecidos nas profundezas...




Dois exemplos de como apesar da agressao constante dos ventos e do sal, a vida se agarra ao que pode, até à própria rocha... aqui abundam as árvores nascidas na rocha, verdadeiros bonsais naturais.



Árvores torturadas...

ou o que fazem ventos furiosos numa natureza de extremos. E esta é uma amostra muito modesta do que tenho visto, espero ainda ter oportunidade de fotografar mais destas coisas antes de me ir. Campos inteiros de árvores torcidas, tombadas, deitadas, como que tentando esticar-se inteiras numa só direcçao, de troncos emaranhados sobre si mesmos a pontos de darem nós, uma visao de espanto.



18 perspectivas de 1 pedaço de madeira...

ou as coisas que se encontram por estas praias...
ou como o mar e o sal podem polir e moldar a madeira...
ou a quantidade de coisas que podemos ver num só capricho da natureza...
um peixe? um abraço? um...?













27.9.08

Um mês ou um mundo de distância?



Amanha fará um mês que deixei Lisboa, e quinta-feira fará um mês que saí de Portugal. As saudades sao muitas, sobretudo porque sei que nao estou para voltar tao cedo, mas nao suplantam a decisao com que vim e a vontade de continuar fora. Este mês passou depressa e no entanto tenho a sensaçao de ter saído há já um ano... aprendi muita coisa, a nível pessoal, profissional, sinto-me mais versátil, forte, crescido, calmo, relaxado, auto-suficiente, mais aberto a uma série de dimensoes, com novas visoes sobre a minha vida, sobre os outros, sobre o amor, sobre o meu passado recente e até os motivos que me levaram a deixar o país. Sabe bem poder de novo escolher em vez de sermos determinados pelo que já somos e pelo que esperam de nós. Sabe bem entender que magoas que sentiamos como incomensuraveis, já nao têm peso nem valor perante a felicidade que sentimos neste momento. Começo nao apenas a entender porque vim, mas também a encontrar parte do que procurava. Até coisas que nao sabia que procurava. Nao tenho motivo em particular para estar feliz - há 3 dias que estou constipadíssimo, estive a trabalhar de camarero por entre ranho, tosse, espirros, febre e dor de cabeça, apesar de medicado; o trabalho é duro e já estava pelos cabelos; terminou ontem , e pagaram-me menos do que estava acordado (amanha apresento queixa nas comisiones obreras); nao tenho dinheiro que chegue para continuar a viagem, ou seja, seguir para os pirinéus, sem passar por Lisboa para vender coisas; fiquei a saber que dos 300 euros que o jc me emprestou, só me vao chegar 230, porque alguém em minha casa em Lisboa (!!!???) gamou dinheiro que estava dentro de uma caixa no quarto do fer... - e no entanto estou feliz. Os últimos acontecimentos na comunidade em Lx sao como que a confirmaçao da oportunidade da minha partida, de alguma forma uma desilusao, mas eu já a pressentia. Foi um dos motivos que me trouxe, o preservar desses afectos, que estavam em risco, e pelos vistos vim em hora buena. Estou hoje a decidir, se passo por Lisboa ou nao. Mas estou já com o pensamento no país basco, algures na fronteira entre país basco "espanhol e iparralde, porque o trabalho abunda aí neste momento - está a começar a altura das estâncias de ski e outras coisas invernais, e por outro lado porque isso me coloca perto do pauet, e queremos estar perto um do outro.

Enfim, talvez me veja forçado a passar por lisboa, mas nunca mais de 2 semanas. Vou agora ver preços de bilhetes e essas coisas, e estou â espera de respostas de amig@s sobre trabalho e casa pelos pirineus, para poder tomar uma decisao. Certo, certo, é que continuo com a mesma decisao, o mesmo espirito, e me sinto muito, muito bem comigo mesmo.

Hey, vivam as argilas desta ilha! A minha dermatite, aquela provocada por "um grande stress emocional", e que os médicos me disseram ser para a vida... está praticamente curada :)
Talvez isso queira dizer que as liçoes que havia a aprender estao aprendidas, que as prioridades mudaram, e as visoes, e o que é importante, e o coraçao se encontra sarado. Assim o sinto :)
Levo uma garrafona de argila comigo na partida, para terminar o processo :)