29.8.08

FINALMENTE

É uma pequena traição ao fer, que me fez prometer que só partilhávamos com os outros uma gravação decente, mas sei que ele entenderá. Quis deixar este mero registo de má qualidade, em cima do acontecimento e com a coisa acabada de escrever, porque assim estou de partida mas deixo a minha voz.

FINALMENTE

'No dia em que partia,
alguém me aligeirou,
à porta do Finalmente
o meu dinheiro voou.
Acordei penosamente,
descalço e caído...
a melhor lição
antes mesmo de ter ido.

FINALMENTE,
vou sair,
e agradeço porque ainda
me fazes rir.

FINALMENTE,
vou a sorrir,
sinal derradeiro
para te fugir.'

27.8.08

Os outros

Não ficas para trás,
porque vieste.
Não ficas p'ra trás
porque te levo
comigo
em tudo
o que faço,
no gosto pelas coisas
que me alimentaste.
Não saberia esquecer-te
nem há voltar sem partir,
não nos perdemos
nem retemos.
Quando se vive intensamente
e se partilha sentimento,
nunca nos abandonamos.
Levamos,
deixamos
parte de nós...

os outros.

17.8.08

Love is... not

Não sei o que é amor. Não acredito na treta do amor romântico, essa invenção burguesa que faria dos indivíduos um só ser fusional, e que na verdade nos anula e nos mutila, e só torna drama o desamor.
Não sei o que é paixão, só conheço afectos, desejo, vontade, amizade, respeito e o coração às vezes a bater mais depressa, mas isso é sangue a correr nas veias, e pode ser só um piano, um amigo, ou uma queca. Tudo válido. Tudo é partilha, mesmo que não voltemos a ver-nos.
Amizade e amor, não há linha de separação. São a mesma coisa, não têm nada de romântico, nem nos fundem. Compensam-nos,porque somos pessoas e precisamos dos outros. Mas só reforçam o caminho individual de cada um, mesmo quando os caminhos de uns e de outros se cruzam.
Não conheço fidelidade, só honestidade e liberdade. Não quero outra coisa senão liberdade, para mim, para ti, para todos. Não prisões.
Conheço o espaço que construi para mim. Só eu caibo nele, mesmo que se alargue dia a dia. Quando muito pessoas especiais vão podendo espreitar nas janelas que entreabro, se quiserem espreitar. Mesmo que espreitem a outras janelas, não são as minhas, não me diz respeito.
Não sei e não quero saber o que é amor e paixão. Não quero obrigação, só sinceridade. Quero até ausência, se for a sinceridade do momento. Ou o prazer de estar juntos e partilhar e se dar prazer ou afecto quando e como se quer. Sem modelos, sem estas tretas dos modelos únicos. As relaçõessão o que fazemos juntos. Eu sou eu, o meu caminho é meu. Não poderás traçar o meu caminho nem percorrê-lo, como eu não quero calcar o de outrém. É na individualidade que se cruzam caminhos. E se descruzam. É a multiplicidade de caminhos que faz o colectivo. É na liberdade que se pode construir amor. Mas ele nunca é dado à partida. E não é como nos contam. Não há amor, nem amizade, nem nada de nada, quando não se parte da construção de si mesmo.