Ficçao (escrita em Maio, pq nao publicar agora?)
"Não peças desculpa por nada, pedir desculpa é sinal de culpa", disse ele."Do que se parte e não se pode consertar, sei eu, aprendi contigo".
O outro engoliu em seco, estilhaçado. Afastado com carinho mas ainda assim um carinho desastrado, torpe, quase rude. Sabendo-se apresado na irremediabilidade de um passado, de algo querido que nao voltaria a ser, numa perda incomensurável.
O outro engoliu em seco, estilhaçado. Afastado com carinho mas ainda assim um carinho desastrado, torpe, quase rude. Sabendo-se apresado na irremediabilidade de um passado, de algo querido que nao voltaria a ser, numa perda incomensurável.
Culpado: "Há coisas que se partem e não são mais que mero momento, como nós, mas um momento tem condão de marcar vidas e pessoas que por serem as mais queridas, ficam".
Foi-se, perdido. Sem saber para onde ir, passos mecânicos, entre a vontade de avançar e a de parar de andar, até lhe doerem as pernas e ter de respirar.
Sabia que tinha feito merda com a última pessoa que queria magoar. Típico! "Quando não te dão cabo da vida, fá-lo tu mesmo, e já agora pega nessa tua mescla de infantilidade, egoísmo e dose gigante de carência, e desilude alguém assim mesmo, mesmo importante para ti". "Que estúpido. Quantas vidas julgava ter?"
A sua cabeça a latejar num turbilhão: "Sossega. Aprende. Quem de mais querido tinhas, manténs, mesmo se do sentido único do tempo somos inevitáveis reféns.Transforma em carinho o abandono, em força e presença e companhia. Desfaz a culpa em adorno do bem que fizeres em teu torno a cada dia. A ele, aos outros, a ti mesmo. Não percas ninguém, não admitas perder ninguém. Aprende, muda, melhora. Compensa."
Parou. Disse-se baixinho: "Ama, mas segue a tua vida." Aquilo doía-lhe. "Segue a tua vida, mas guarda-lhe um lugar que será sempre dele. E se outros o ocuparem, assim é também a vida, melhor significa que te mantiveste aberto à vida. Dá-lhe a ele o que ele ainda quiser receber e conforma-te com o que sobrar. Dá o melhor que tens, não a ele, mas a quem o quiser. Ao mundo. Assume. O que foste e fizeste, o que és agora e o que serás e farás. As contradições, e a racionalidade que não te impões."
"Que vais fazer agora?" Olhando em torno, os caminhos surgiam múltiplos."Para onde vais? Segue a tua vida. Sem ele?"
O que fica vai ser bom porque é diferente, o que fica entre nós vai melhorar com o tempo. Pior seria não saber hoje melhor, de cor, que se há erros que nos mudam uma vez e para sempre, o alívio está no que podemos aprender, na capacidade de mudar, no bom que ainda podemos construir-nos.
O que fica é muito amor, a receber como fizer favor. Se não deseja mais nada, obrigada, só lhe darei o que lhe agrada. Se desejar só um pouquinho, pode ser que também ainda se faça o servicinho. É ao gosto do freguês. A casa é sua e fez demasiados anos de uma vez. É sempre um prazer recebê-lo, faça o favor de entrar, sabe onde nos encontrar. Mas alguma coisa terá também de deixar.
Foi-se, perdido. Sem saber para onde ir, passos mecânicos, entre a vontade de avançar e a de parar de andar, até lhe doerem as pernas e ter de respirar.
Sabia que tinha feito merda com a última pessoa que queria magoar. Típico! "Quando não te dão cabo da vida, fá-lo tu mesmo, e já agora pega nessa tua mescla de infantilidade, egoísmo e dose gigante de carência, e desilude alguém assim mesmo, mesmo importante para ti". "Que estúpido. Quantas vidas julgava ter?"
A sua cabeça a latejar num turbilhão: "Sossega. Aprende. Quem de mais querido tinhas, manténs, mesmo se do sentido único do tempo somos inevitáveis reféns.Transforma em carinho o abandono, em força e presença e companhia. Desfaz a culpa em adorno do bem que fizeres em teu torno a cada dia. A ele, aos outros, a ti mesmo. Não percas ninguém, não admitas perder ninguém. Aprende, muda, melhora. Compensa."
Parou. Disse-se baixinho: "Ama, mas segue a tua vida." Aquilo doía-lhe. "Segue a tua vida, mas guarda-lhe um lugar que será sempre dele. E se outros o ocuparem, assim é também a vida, melhor significa que te mantiveste aberto à vida. Dá-lhe a ele o que ele ainda quiser receber e conforma-te com o que sobrar. Dá o melhor que tens, não a ele, mas a quem o quiser. Ao mundo. Assume. O que foste e fizeste, o que és agora e o que serás e farás. As contradições, e a racionalidade que não te impões."
"Que vais fazer agora?" Olhando em torno, os caminhos surgiam múltiplos."Para onde vais? Segue a tua vida. Sem ele?"
O que fica vai ser bom porque é diferente, o que fica entre nós vai melhorar com o tempo. Pior seria não saber hoje melhor, de cor, que se há erros que nos mudam uma vez e para sempre, o alívio está no que podemos aprender, na capacidade de mudar, no bom que ainda podemos construir-nos.
O que fica é muito amor, a receber como fizer favor. Se não deseja mais nada, obrigada, só lhe darei o que lhe agrada. Se desejar só um pouquinho, pode ser que também ainda se faça o servicinho. É ao gosto do freguês. A casa é sua e fez demasiados anos de uma vez. É sempre um prazer recebê-lo, faça o favor de entrar, sabe onde nos encontrar. Mas alguma coisa terá também de deixar.
O que fica é finalmente, respeito. Modéstia.
"Desculpa teres sido tu a ensinar-mo, obrigado por o teres feito", com este pensamento descansou a cabeça e o coração. Respeito, talvez agora soubesse melhor o seu significado. As pernas moídas como cicatrizes de uma lição, iniciou o caminho de regresso a casa.
Falava agora consigo como se falasse com ele: "Não peço desculpa de nada. Sei o que fiz e o que não fiz. Evito a desculpa, agindo antes. Não me culpo, nem lavo as mãos. O que foi, foi. O que for, será. Siga a vida, tentaremos fazer o melhor possível. Com sorte, um dia, de novo, reconhecer-me-às, assim como sou."
"Que não seja desta vez à porta de minha casa, os dois molhados que nem patos porque nos esquecemos da chave, chovia a potes e a minha companheira de casa estava demasiado longe para vir abrir. E se for que seja. Valerá a pena. Entre nós há perda. Também há ganho. Entre nós há coisas, boas e más. Algumas ficam, outras vão perder-se. Assim o quiseste, assim o fizemos. Não adianta repisar. Não adianta forçar. O carinho que houver há, o que não houver, não há. O carinho é expresso, não sendo expresso não existe ou não serve. Os amanhãs não são necessariamente muitos, mas as possibilidades sim. Fizemo-nos mal. Perdemo-nos. Não éramos um para o outro. E no entanto talvez nos voltemos a cruzar. Para que esse seja um dia feliz, já está entendido o que conta. Não há culpa entre nós. Vou viver aqui. Vou viver aqui agora, onde fôr. Vou viver com quem viver aqui. O passado que fique no passado, eu sigo em frente."
"Desculpa teres sido tu a ensinar-mo, obrigado por o teres feito", com este pensamento descansou a cabeça e o coração. Respeito, talvez agora soubesse melhor o seu significado. As pernas moídas como cicatrizes de uma lição, iniciou o caminho de regresso a casa.
Falava agora consigo como se falasse com ele: "Não peço desculpa de nada. Sei o que fiz e o que não fiz. Evito a desculpa, agindo antes. Não me culpo, nem lavo as mãos. O que foi, foi. O que for, será. Siga a vida, tentaremos fazer o melhor possível. Com sorte, um dia, de novo, reconhecer-me-às, assim como sou."
"Que não seja desta vez à porta de minha casa, os dois molhados que nem patos porque nos esquecemos da chave, chovia a potes e a minha companheira de casa estava demasiado longe para vir abrir. E se for que seja. Valerá a pena. Entre nós há perda. Também há ganho. Entre nós há coisas, boas e más. Algumas ficam, outras vão perder-se. Assim o quiseste, assim o fizemos. Não adianta repisar. Não adianta forçar. O carinho que houver há, o que não houver, não há. O carinho é expresso, não sendo expresso não existe ou não serve. Os amanhãs não são necessariamente muitos, mas as possibilidades sim. Fizemo-nos mal. Perdemo-nos. Não éramos um para o outro. E no entanto talvez nos voltemos a cruzar. Para que esse seja um dia feliz, já está entendido o que conta. Não há culpa entre nós. Vou viver aqui. Vou viver aqui agora, onde fôr. Vou viver com quem viver aqui. O passado que fique no passado, eu sigo em frente."